terça-feira, 26 de agosto de 2008

Eu sou assim


Hoje eu sou um reflexo do que tentei ser
resultado daquilo que não consegui
sou mosaico de estórias
menino que se perdeu no parque

sou sempre busca
sou sempre sonho
um poeta que habita em mim
mas, naquele parque
quase sem querer...

... encontrei um jardim.

Luciano Martini

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As Flores


As flores não precisam ser entendidas para serem apreciadas.
Se formos estudá-las teríamos que arrancar suas pétalas, raspar seu caule, esmagá-las para serem vistas num microscópio... e assim quebraríamos o seu encanto.
As flores são belas por serem livres.
Belas... simplemente belas.
Existem coisas que precisam ser entendidas, mas existem "outras" coisas que existem só para serem admiradas.
O problema de se estudar muito as flores é que começamos a nos esquecer de desfrutar do seu perfume...


Luciano Martini

sábado, 23 de agosto de 2008

Tua Varanda

Voa com as asas de meus olhos
e partilha da minha constelação
nesta metamorfose de cores.
Que surpresa trará a brisa que passa
entre suas fragâncias e melodia?
Captura a luz deste ocaso
e pinta de púrpura o teu caminho
Faz com que as orquídeas
combinem com o teu sorriso
e subsista em ti esta doce ternura
este anoitecer mágico
na varanda que espreita
esta sombra viajante
que deixa marcas
em forma de pegadas...

Luciano Martini

Epifania


Afagas o mundo todo
com os teus abraços
e encerras em teus lábios
o segredo da minha existência
Teus olhos acalmam os mares
e impedem tremores de terra
Nas tuas mãos escondes maravilhas
que povoam nossos sonhos
e todos os dias renascem novas histórias
O teu peito é a minha cama,
porque me embala e me eleva
sempre que a respiração acelera
Os teus dedos são voláteis,
descobrem tesouros escondidos
e põem-me flores no caminho
mesmo depois da Primavera
Eu durmo de espírito limpo,
aos pés da tua cama,
todas as noites perto do Paraíso.


Luciano Martini

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Pássaro Encantado

Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo um pássaro encantado. Ele era encantado por duas razões. Primeiro, porque ele não vivia em gaiolas,vivia solto, vinha quando queria. Vinha porque a amava. Segundo, porque sempre que voltava suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado. Certa vez voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou estórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez suas penas estavam vermelhas, e ele contou estórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade quando eles estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia:"Tenho de partir." A menina chorava e implorava:"Por favor, não vá. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar..." "Eu também terei saudades", dizia o pássaro,"Eu também vou chorar". Mas vou lhe contar um segredo! Eu só sou encantado por causa da saudade. É a tristeza da saudade que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. E eu deixarei de ser o pássaro encantado. E você... deixará de me amar. "E partiu... A menina, sozinha, chorava. E foi numa noite de saudade que ela teve uma idéia:"Se o pássaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E para ele não partir basta que eu o prenda numa gaiola." Assim aconteceu: a menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda. Quando o pássaro voltou eles se abraçaram, ele contou estórias e adormeceu. A menina, aproveitando-se do seu sono, o engaiolou. Quando o pássaro acordou, deu um grito de dor. "Ah! menina, o que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feia se eu me esquecerei das estórias. Sem a saudade o amor irá embora." A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por acostumar. Mas não foi isso que aconteceu. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se em um cinzento triste. E veio o silêncio. Deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu pássaro... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. "Pode ir, pássaro", ela disse:"Volte quando você quiser...""Obrigado, menina", disse o pássaro,Irei e voltarei quando ficar encantado de novo. E você sabe: Ficarei encantado de novo quando a saudade voltar dentro de mim...
E dentro de você...
Rubem Alves

quarta-feira, 20 de agosto de 2008


dentro de mim há corredores
e em quartos interiores um aroma azul
que confunde sonhos com a razão...
por dentro de mim rebentam flores.
por dentro de mim a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.


Luciano Martini

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Tudo isso é poesia


Mar de manhã
Sons de cachoeira
Vento do mar de noite, numa ilha...
Abelha
Brisa que passa e ensina uma canção
Fogo vermelho no fogão
Capim
Perfume do capim
Passarinho no céu
Caminhar na praia a tardinha
O olhar e tudo o que ele olha
Pão quente
As flores que renascem na primavera
Sono na cama
Um cego que canta para uma criança
Estrada sinuosa
Castelos sombrios
Saudade
Barulho de chuva na janela
Sol nascente sobre um lago gelado
Outono
O trovão que estronda
Folhas caídas numa trilha
O silêncio entre nós...



Luciano Martini

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bancos Riscados


Vem comigo
caminhar no parque
ao encontro de bancos riscados
testemunha de passados
esse velhos livros silenciosos
deixe que te leve por esse trilha
que percorro todo dia
com meu olhar


Luciano Martini

Naquele abraço
muito mais do que braços
existiam berços...

Galhos Ressurretos


ausências em tempestade da alma
uma estrela que perdeu-se da noite
penetra na janela um sol vacilante
nesta bizarra manhã desfeita

canteiros de árvores secas florescem
libertam-se os segredos de aromas baunilhados
antecipam a primavera
fazendo perecer este inverno

ressurreição nas ruas...

Luciano Martini
(Obs. : Eu gosto da primavera, mas sinto saudade do outono!)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?


Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.
Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.

Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Canção da Saudade

São sombras do meu caminho
Iluminadas por sorrisos inesquecíveis
Que navegam em pétalas de lembranças
No jardim onde cultivo segredos,
Olhares de infância;
Memoriais...
Solto as amarras da vida,
E num segundo frágil
Fértil de sentimento,
Num só momento,
Revivo num renascer
Único e imenso
Num suave caminho...
*
Luciano Martini

Minha Dança


Sempre que uma canção íntima me alcança, a chuva me acorda os sentidos e o vento me confidencia suaves lembranças de um tempo longínquo, eu Te sinto.

Sei que me inspiras melhores sentimentos e mais elevadas emoções do que as que consigo ser. Também sei que me suportas e que me acompanhas o passo inseguro.
Mas sempre volto para um lugar dentro de mim, reflitindo sobre os versos que escrevo, sobre a dança que danço, na esperança de Te encontrar.

Quanto mais eu Te conheço, mais me descubro.
Luciano Martini

sábado, 9 de agosto de 2008

Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.

C S Lewis

segunda-feira, 4 de agosto de 2008


Oh! silêncio das salas de espera
Onde esse pobres guarda-chuvas lentamente escorrem...
O silêncio das salas de espera
E aquela última estrela...
Aquela última estrela
E, na parede, esses quadrados lívidos,
De onde fugiram os retratos...
De onde fugiram todos os retratos...
E esta minha ternura,
Meu Deus,
Oh! toda esta minha ternura inútil, desaproveitada!...

Mário Quintana

sábado, 2 de agosto de 2008

Naufrágio




Há em mim uma panteão de crepúsculos, pulsando nesta explosão de cores e sentidos.
Neste cenário que atrai o olhar dos poetas é onde eu encontro refúgio. Nesta ilha do imaginário habito com loucos, profetas e sonhadores. Fecho os olhos e ouço sinfonias, e vez por outra, o sussurrar dos anjos.
Sou caçador de versos.
Cada sabor acrescenta sabedoria, infundindo sentido a mistérios e possibilidades que vivo intensamente.
Uma vida não basta.
Por isso vivo mil vidas, narrando meus dias em poesia. Abandonei a crônica e a descrição histórica, quero viver em versos e melodia. Não decifro enigmas, mas sou por eles seduzidos. Misteriosamente atraído para este mar onde a possibilidade do naufrágio é certa. Mas como poetizou Mário Quintana- " Eu sempre sobrevivo a todos os naufrágios".
Luciano Martini

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


Hoje eu fiz um funeral.

Fiquei vagando por corredores assombreados, sentido o cheiro de flores envelhecidas e ouvindo meus passos ao longe. Das paredes, fotos mortas me observavam.
Desconhecidos ( como podiam imaginar?), hoje, dormem lado a lado, esperando...

Enterramos nossos mortos e choramos a falta que eles nos fazem. Sim, é isso que fazemos.
Jaz sobre nossos ombros este pesado fardo. Fardo dos que ficam.
Mas mesmo entre lágrimas conseguimos reservar um pequeno espaço. Um pequeno espaço para um leve sorriso.

Este frágil sorriso, nos revela, nos desnuda, a existência de uma esperança.

Um dia...

... nos veremos de novo.
Luciano Martini