segunda-feira, 25 de maio de 2009

Descaminhos


Ando lento
no rastro que crio
nesta estrada impossível
entre baús de tesouro
deixo migalhas no caminho
mas só o silêncio me segue

Luciano Martini

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma história verídica

Quando visitei Paris pela primeira vez, decidi fugir por alguns momentos dos lugares comuns que todos querem conhecer: Torre Eiffel, Notre Dame, Musée du Grand Louvre, Arco do Triunfo, Champs Elysées, etc... (todos maravilhosos por sinal!).
Eu queria dar uma escapada e, cruzar por aquelas ruelas luminosas parisenses como quem descobre a anatomia da cidade.
Então, saí sem destino certo, por entre aquela paisagem urbana. Passei por padarias onde pessoas compravam suas baguetes e croissants, vasculhei livrarias com aromas que me lembravam museus, sentei em cafés iluminados por luzes indiretas, assisti a apresentações improvisadas de músicos de rua e observei pintores desenhando telas a beira do rio Senna.
Foi aí , em uma rua muito estreita e movimentada, que eu encontrei um senhor que segurava folhas amareladas, oferecendo-as ao transeuntes que por ali passavam.
Me aproximei e tentei sustentar um diálogo, já que eu falava uma mistura de inglês com português e ele me respondia em um francês misturado com espanhol.
Perguntei-lhe o que ele estava vendendo, e ele para minha grata surpresa me disse que vendia poemas.
- Que tipo de poemas? Continuei perguntando.
- Poemas para .............. (por mais que eu tente não me lembro do nome que ele me disse)
- Quem é ela ? (todos poemas eram dedicados à mesma mulher)
Ele me respondeu: - Foi um grande amor !
Aquele diálogo estava ficando muito interessante, a ponto de eu lamentar não falar francês para inquiri-lo a respeito daquela surpreendente história. Então, limitado em meu vocabulário, só pude perguntar-lhe se ela tinha morrido.
O velho francês ficou sério e me disse:
- Não, simplesmente a perdi...
Pelo que eu pude entender, ele a tinha perdido (ele não me disse como, se disse, não entendi).
Depois disso se mudara para Paris e ganhava a vida vendendo poesia, na sua maioria em homenagem a ela.
Fiquei fascinado com aquilo, catei em meus bolsos alguns trocados e comprei-lhe um poema. Fiquei de pé em frente dele, lendo em voz alta os seus versos (estavam em espanhol).
Quando terminei, olhei para aquele rosto que me despertara tanta simpatia e completei:
- Sua história é bela, porém, triste!
O homem assentiu de maneira pesarosa, comovendo-me.
Ao despedir-me, na esperança de confortá-lo, acrescentei:
- Talvez algum destes poemas acabe encontrando-a.
Ele sorriu.
- Talvez...
(Que saudade de Paris!)
Luciano Martini

terça-feira, 19 de maio de 2009

Parece que um navio

Parece que um navio estranho
Passará pelo mar, a certa hora.
Não é de ferro nem são alaranjadas
Suas bandeiras,
Ninguém sabe de onde
Nem a hora,
Tudo está preparado
E não há melhor salão, tudo disposto
Ao passageiro acontecimento.
A espuma está disposta
Como uma alfombra fina,
Tecida com estrelas,
Mais distante o azul,
O verde, o movimento ultramarinho,

Tudo espera.
E aberto o rochedo,
Lavado, limpo, eterno,
Espalhado na areia
Como um cordão de castelos,
Como um cordão de torres.
Tudo está disposto,
O silêncio está convidado,
E até homens sempre distraídos,
Esperam não perder a presença;
Vestiram-se como em dia Domingo,
Lustraram as botas,
Pentearam-se.
Estão ficando velhos
E o navio não passa.

Pablo Neruda

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Eu sei que estou vivendo uma despedida
e em razão disso, meu olhar
tem olhos mais ternos.


Luciano Martini

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Buscas e Descobertas


Desnuda-me palavra por palavra
deixa-me sair da epiderme
que me envolve
nesta camuflagem que inibe
gestos, aromas
ritmos sedentos do meu ser.

Desnuda-me…
despindo-me de segredos,
medos, vontades contidas em soluços.

E depois..
veste-me de silêncios….

Luciano Martini

terça-feira, 12 de maio de 2009

Pôr do sol no Guaíba



Fosse o dia preenchido
Desses momentos laranjas,
Não haveria tristeza,
A espera da noite.
Vida que não dorme,
Não quer o sol,
Não quer a lua,
O pôr-do-sol me rouba o dia,
Acalma o rio,
E me cura.


Luciano Martini

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Desencontros

Quando faço as pazes
com o silêncio das ruas,
sinto melhor o verde,
os pássaros cinzas
e as borboletas azuis.


Vejo o pôr do sol
e basta.

Quando consigo
esquecer da busca,
encontro.


Luciano Martini

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Trilhas e Armadilhas


quando desço aos poços de luz
brilham versos no céu
da boca
e me reconheço na neblina
deste caminho comprido
de promessas descumpridas
no coração da chama
entre estrelas de cinco pétalas
outro perfume nasce em mim


Luciano Martini

terça-feira, 5 de maio de 2009

A Cruz

"Se alguém que já se deparou com Cristo na cruz ainda achar que tem algum direito a exigir dele, não se converteu, não entregou a sua vida na cruz de Cristo"


Marcos Botelho