
Eu fui chegando assim, devagarinho
Com medo de falhar
Não encontrar um porto
e me perder neste mar
Por entre sonhos meus
Fui aprendendo a procurar
Nadar em águas profundas
Sem receio de me olhar...
Luciano Martini
O MAIS TRISTE COM RELAÇÃO à vida é não se lembrar de metade dela. Não se lembrar nem de metade da metade dela. Não se lembrar nem mesmo de uma ínfima porcentagem, se quiser saber a verdade. Tenho um amigo chamado Bob que escreve tudo o que lembra. Se lembrar que deixou cair um sorvete de casquinha no colo quando tinha sete anos, ele vai escrever isso. A última vez que conversei com Bob, ele tinha escrito mais de quinhentas páginas de memórias. Ele é o único cara que conheço que se lembra de sua vida. Ele disse que capta lembranças porque, se esquecê-las, é como se não tivessem acontecido, como se ele não tivesse vivido as partes que não lembra.
Pensei nisso quando ele comentou e tentei me lembrar de algo. Lembrei-me de ter ganhado uma insígnia de mérito como escoteiro quando tinha sete anos, mas só consegui me lembrar disso. Eu a ganhei por ajudar um vizinho a cortar uma árvore.
Vou dizer isso para Deus quando ele perguntar o que fiz com minha vida. Vou dizer que cortei uma árvore e ganhei uma insígnia por isso. É muito provável que ele queira ver a insígnia, mas eu a perdi anos atrás e, por isso, quando eu tiver terminado minha história, Deus provavelmente estará sentado ali, olhando para minha cara de quem imagina o que vai falar em seguida. Deus e Bob provavelmente vão conversar durante dias.
Um Milhão de Quilômetros em Mil anos, Donald Miller
Eu devia ter perguntado como seria a vida depois de ti,
mas, tive medo da resposta.
Pois, lá no fundo eu já sabia...
Eu sabia que o céu nunca mais teria o mesmo azul,
que os pássaros de tão chateados não cantariam como antes,
que o arco-íris perderia uma cor,
e que meu sorriso ficaria marcado.
Sabia que sentiria falta do teu abraço
que a tua ausência estaria sempre presente
e que carregaria comigo a esperança
de um dia te reencontrar.
Luciano Martini