
Eu tenho um plano...
Vou mandar fazer um terno laranja e comprar sapatos dourados para festejar a alegria de viver, dançando desajeitadamente até que a minha pele transpire luz e a minha boca profira perfumes.
Vou tatuar em meus olhos a figura de um menino com sua pipa, para que jamais falte o júbilo da inocência em meu olhar.
Vou cruzar esquinas e praças a procura dos seresteiros que cantam ao luar e, no contorno dos dias amarram fitas brancas nas sinaleiras.
Vou criar um sinal secreto para que todos os poetas da vida me reconheçam, e ao cruzarem por mim nas avenidas da cidade, possam acenar com lenços de estrelas.
Vou comprar um relógio que não marque as horas, mas distinga os momentos cruciais do dia, para que eu possa valorizá-los devidamente.
Vou me fingir de morto, mas estarei pronto a renascer, quando uma saudade despertar, ao som de um pôr de sol inesquecível.
Vou me preparar, para que no momento certo eu possa recitar o verso encantado que transforma pedra em sorrisos.
Vou fazer de conta que me perdi no parque, para que possa ser encontrado ao pé daquela paineira que planta flores em meus poemas.
Vou me fazer de desentendido, mas a noite arquitetarei projetos para mudar o mundo.
Eu tenho um plano...
Luciano Martini
4 comentários:
Belíssimo texto.
O sol trajado a rigor, exalando luz, perfume e inocência, dança ao som do seresteiro...
Reconhecido por suas amigas estrelas, valorizando o tempo que ajuda marcar...
Nascendo e renascendo, cantando e encantando, sonhando e planejando...
Talvez ele esteja planejando trazer de volta a primavera... talvez ele também não goste do frio...
[A intenção do poeta pode ter sido outra, mas foi essa a imagem que, em minha alma, se formou. Concordo com Nádia, belíssimo texto.]
"O mundo pode de diversas maneiras tentar apagar a beleza de uma poesia, mas jamais extinguirá a alma de um poeta".
Sou teu fã irmão.
Ainda não li tudo, mas amei este texto, e gostava mesmo de o colocar no meu blogue, devidamente identificado claro.
Será que posso?
Maria
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