quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma história verídica

Quando visitei Paris pela primeira vez, decidi fugir por alguns momentos dos lugares comuns que todos querem conhecer: Torre Eiffel, Notre Dame, Musée du Grand Louvre, Arco do Triunfo, Champs Elysées, etc... (todos maravilhosos por sinal!).
Eu queria dar uma escapada e, cruzar por aquelas ruelas luminosas parisenses como quem descobre a anatomia da cidade.
Então, saí sem destino certo, por entre aquela paisagem urbana. Passei por padarias onde pessoas compravam suas baguetes e croissants, vasculhei livrarias com aromas que me lembravam museus, sentei em cafés iluminados por luzes indiretas, assisti a apresentações improvisadas de músicos de rua e observei pintores desenhando telas a beira do rio Senna.
Foi aí , em uma rua muito estreita e movimentada, que eu encontrei um senhor que segurava folhas amareladas, oferecendo-as ao transeuntes que por ali passavam.
Me aproximei e tentei sustentar um diálogo, já que eu falava uma mistura de inglês com português e ele me respondia em um francês misturado com espanhol.
Perguntei-lhe o que ele estava vendendo, e ele para minha grata surpresa me disse que vendia poemas.
- Que tipo de poemas? Continuei perguntando.
- Poemas para .............. (por mais que eu tente não me lembro do nome que ele me disse)
- Quem é ela ? (todos poemas eram dedicados à mesma mulher)
Ele me respondeu: - Foi um grande amor !
Aquele diálogo estava ficando muito interessante, a ponto de eu lamentar não falar francês para inquiri-lo a respeito daquela surpreendente história. Então, limitado em meu vocabulário, só pude perguntar-lhe se ela tinha morrido.
O velho francês ficou sério e me disse:
- Não, simplesmente a perdi...
Pelo que eu pude entender, ele a tinha perdido (ele não me disse como, se disse, não entendi).
Depois disso se mudara para Paris e ganhava a vida vendendo poesia, na sua maioria em homenagem a ela.
Fiquei fascinado com aquilo, catei em meus bolsos alguns trocados e comprei-lhe um poema. Fiquei de pé em frente dele, lendo em voz alta os seus versos (estavam em espanhol).
Quando terminei, olhei para aquele rosto que me despertara tanta simpatia e completei:
- Sua história é bela, porém, triste!
O homem assentiu de maneira pesarosa, comovendo-me.
Ao despedir-me, na esperança de confortá-lo, acrescentei:
- Talvez algum destes poemas acabe encontrando-a.
Ele sorriu.
- Talvez...
(Que saudade de Paris!)
Luciano Martini

2 comentários:

SoS Gospel disse...

bah, muito legal! Mas pena que é triste!

matheus disse...

...puxa...

Karla Morgana