sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pensar é Transgredir

"Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar o nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. muita inquietação por debaixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema: pensar nem pensar"
Lya Luft

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Conchinhas


eu
cato conchinhas na beira da praia
a procura da concha perfeita
a brisa marinha esvoaça meu rosto
e meu olhar se desvia no horizonte
o crepúsculo incendeia o fim do dia
e eu
penso
talvez já tenha encontrado...


Luciano Martini

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O ratinho que sonhava com a lua.


Este final de semana eu ouvi uma palestra onde o interlocutor dizia:
- Conheci um ratinho que pensava que a lua era feita de queijo. E ele passou a vida inteira sonhando em comer a lua, que grande tolo!
- Nós não podemos ser como este ratinho, temos que ter metas alcançáveis.
Fiquei ouvindo aquilo e pensando: Ele pode entender de metas, mas definitivamente, não entende nada de sonhos. Quem vive atrás de metas são os engenheiros, os políticos, os empresários, os contabilistas, os chatos, etc...
Os poetas, os profetas, vivem atrás de sonhos. São sonhadores...
Então vou te dizer, eu também conheci este ratinho. E de tolo, ele não tinha nada. Deixe-me descrevê-lo:
Ele sonhava comer a lua ! E contava este sonho para todos os seus amigos. Só que quando ele contava, ele falava com paixão, seus olhos brilhavam, muitos queriam ouví-lo. Ele descrevia a lua com uma riqueza de detalhes que impressionava, era capaz de descrevê-la em todas as suas quatro fases. De repente, com a mesma intensidade do início, ele parava. Olhava para cima alguns instantes, sorria e suspirava, para logo depois acrescentar: Um dia eu vou até lá...
Todos se admiravam com sua paixão, e por causa daquele ratinho sonhador, muitos outros começaram a sonhar.
Em certas ocasiões, ele desanimava.
Mas, era só até as nuvens desaparecerem e revelarem novamente o luar.
Quando seu olhar encontrava a lua, ele voltava a sorrir, a cantar, a sonhar...
Este sonho era tão envolvente, apaixonante, que ele se tornou poeta, e escreveu diversos poemas em homenagem a lua, e cada um que lia, fechava os olhos e sonhava com a luz do luar.
É bem verdade, que ele nunca conseguiu ir até a lua.
Mas, os outros ratinhos, nós nem conhecemos, nem nos lembramos deles, simplesmente passaram.
Porém, aquele ratinho, que sonhava com a lua, ninguém esquece. Ele era diferente!
Até hoje quando os ratos se encontram para botar a conversa em dia, alguém comenta:
-Vocês se lembram daquele ratinho que era poeta?
E na mesma hora, todos voltam o seu olhar para a lua, sorriem e dizem:
- Como poderíamos esquecê-lo !

*
( Enquanto a lua existir, dará o testemunho, daquele que passou a vida sonhando com ela.)

Luciano Martini

Influência


Quem vive perto das flores, corre o risco de ficar colorido.


Luciano Martini

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Busca


Sigo, a passos incertos
Procurando suas marcas nos caminhos abertos
Pelo meu caminhar
Sigo suas pegadas, invisíveis
A esmo deixadas, inesquecíveis...
Sob a fina luz do luar



Luciano Martini

sábado, 18 de outubro de 2008

O Galo que cantava para o Sol nascer.


Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs, e dizia para a bicharada do galinheiro:- Vou cantar para fazer o sol nascer…
Ato contínuo, subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o nascente e ordenava, definitivo:- Có-có-ri-có-có…E ficava esperando.
Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer, até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo. O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos e dizia:
- Eu não falei?
E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante aquela maravilhosa demonstração.
E se o galo ficasse rouco? E se esquecesse a partitura? Quem cantaria para fazer o sol nascer? O dia não amanheceria.
Aconteceu que certa madrugada o galo perdeu a hora. Não cantou para fazer o sol nascer.
E o sol nasceu sem o seu canto.
O galo acordou com o reboliço no galinheiro. Todos falavam ao mesmo tempo.
- O sol nasceu sem o galo… o sol nasceu sem o galo…
O pobre galo não podia acreditar naquilo que seus olhos viam: a enorme bola vermelha, lá no alto da montanha. Como era possível? Teve um ataque de depressão quando descobriu que não era seu canto que fazia o sol nascer. E a vergonha era muita.
Passou-se muito tempo sem que se ouvissem o cantar do galo, de deprimido e humilhado que estava.
Até que, uma bela manhã, o galinheiro foi despertado novamente com o canto do galo. Lá estava ele, como sempre, no alto do telhado, peito estufado.
- Está cantando para fazer o sol nascer?, perguntou o peru em meio a uma gargalhada.
- Não, ele respondeu. Antes, quando eu cantava "para" fazer o sol nascer, eu era um tolo.
Mais agora eu canto "porque" o sol nasce!
Não sou mais tolo, agora virei poeta...


(Este estória foi divulgada pelo Rubem Alves, eu só dei uma "adaptada")

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Meu olhar


Meus olhos não sabem nadar
e deve ser por isso que
meu olhar
sempre se perde no mar...

Luciano Martini

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Caminho


“Mais cedo ou mais tarde você irá perceber, assim como eu percebi, que há uma diferença entre conhecer o caminho e andar por ele.”


Morpheus (Matrix)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Estranho Poema...


Eu sou estranho...

Eu sinto falta de
lugares que nunca conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou estranho...
Eu guardo
sonhos interrompidos
e pequenos detalhes
que aos outros passam desapercebidos
Eu sou estranho...
Eu me arrependo
de coisas que eu não mudei
flores que não admirei
ondas que não surfei

Eu sou estranho...
Estranho
como a brisa gelada desta manhã
que mesmo em plena primavera
resiste e sopra...

Estranho
como esta brisa que carrega
a lembrança de um outono inesquecível.

Luciano Martini

segunda-feira, 6 de outubro de 2008