quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Tempus Fugit


Passagem de ano é o velho relógio que toca o seu carrilhão.
O sol e as estrelas entoam a melodia eterna: "Tempus fugit".
E porque temos medo da verdade que só aparece no silêncio solitário da noite, reunimo-nos para espantar o terror, e abafamos o ruído tranquilo do pêndulo com enormes gritarias. Contra a música suave da nossa verdade, o barulho dos rojões...
Pela manhã, seremos, de novo, como o tolo Coelho da Alice:
"Estou atrasado, estou atrasado..."
Mas o relógio não desiste. Continuará a nos chamar à sabedoria:
Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...



Rubem Alves

E depois de termos construído um altar
para a Luz Invisível,
poderemos sobre ele colocar
as pequenas luzes
para as quais os nossos olhos foram feitos.


T. S. Eliot

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sem pressa nenhuma


Em pé nesse cruzamento, me ponho a lembrar por quantos caminhos trilhamos sozinho, mas sem pressa nenhuma descobrimos nosso destino, e nossa alma recusa esta prisão dourada e almeja voar com os outros pássaros.
Em pé nesse cruzamento, eu posso ver alguns estranhos passando por mim carregando uma certa dignidade. Quantas histórias vividas trazem esses olhos cansados, que ora me encorajam, ora me enfraquecem. Tudo já foi feito até chegarmos neste eito, amigo, e hoje eu não tenho pressa alguma.
Em pé nesse cruzamento, eu posso sentir o cheiro de chuva e terra molhada, quando fecho meus olhos, mesmo que não haja nuvens. São minhas lembranças que brincam de roda, e despertam um menino tímido que vem me visitar todos os natais.
Calmamente neste cruzamento, sem desejo de correr, não há nenhuma pressa quando tudo foi dito e feito. Então deixe-me aqui por alguns instantes atrapalhando o trânsito, parado nesta encruzilhada da vida.

Porque hoje;
eu não tenho pressa nenhuma...

Luciano Martini

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Visões


...vossos jovens terão visões;


Existem alguns olhares
que carregam em si um certo vislumbre do sagrado,
e por esta razão,
tornam-se altares.


Luciano Martini

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O caminho desconhecido dos mapas


aquele caminho tem um olhar
que me toca as entranhas.
uma rede embala os que desistem
os que persistem, giram sóis
brilham luas

e o ipê;
insiste em florescer
a despeito das ruas


Luciano Martini

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Intimidade


O ocaso sepulta o brilho no horizonte,
mas no fundo de minha alma,
meus íntimos vivem...



Luciano Martini

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Uns dias


uma manhã de nuvens
cheirando verão
paredes retendo
o silêncio do tempo
o relógio chorando
os minutos iguais
a espera escorrendo
estrelas demais

uma tarde chuvosa
beirando o natal
o chão dormitando
na enchente do rio
um sino brincando
de pega ladrão
na boca adoçando
um picolé de limão

uma noite pingando
pra fora do mito
o espelho frustando
a esperança do rito
o lenço enxugando
dormentes de trem
o adeus respingando
promessas ao vento
e o tempo partindo
derivando pra vida.


Luciano Martini

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Fotos Antigas


Observando fotos antigas
notei que em algum ponto de minha vida
meus sorrisos se modificaram

Trato deste tema
fazendo poema
sem pontos finais...

E agora, de fora
das catedrais do tempo
sorrio em metáforas e rimas
tentando encontrar entre ruínas
o que pode ainda
fazer-me sorrir
como naqueles dias




Luciano Martini

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Brevidade


Se minha vida tem que ser breve,
então que seja intensa
Intensa como uma estrela cadente
iluminando o caminho,
atraindo olhares para o céu,
depertando inspiração e desejos
de uma vida melhor.



Luciano Martini

domingo, 15 de novembro de 2009

Mais uma do Rubem


Aprecio a tua presença só com os olhos.

Vale mais a pena ver uma coisa sempre pela primeira

vez que conhecê-la,


Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira

vez,

E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido

contar.




Rubem Alves

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A Coleção


Guardo em mim secreta coleção de fotos: o tempo parado para sairmos deste deserto que escolhemos viver, a carícia entesourada em gestos ternos e abraços de sofá, a fraternidade vagabunda sentada em calçadas da madrugada, o canto preparado em uma orquesta de anjos sem asas e sem noção, a minha tolice e a dúvida que arrasta meus olhos para o lado oposto da minha intenção, aquele poema onde desnudei os segredos da minha humanidade e a saudade que brota como uma flor de brejo, irresponsavelmente bela e perfumada.


Luciano Martini

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Simplicidade


No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia?
Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples.
Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só.





Rubem Alves

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Caminhando na chuva


Meus passeios descobrem um mundo novo de possibilidades e sensações.
Sublime! É a noite que bebe o outono com chuviscos.
Andando em direção à luz de cidades inundadas e distantes, o caminho da chuva que o meu olhar traduz em trilhas de saudade, me convida e acaricia.
Vivo mil vidas em minha imaginação : - Enredos, cenários escondidos e figuras fantasmagóricas que me acompanham.
Banhos longos não lavam a alma, mas me lembram que eu ainda estou vivo...
Então, espero, não desespero.
Sigo suave e displicente, como o silêncio que há entre duas rosas que se olham.



Luciano Martini

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Com o Sol nos olhos


Com o Sol nos olhos,
pode-se pisar alegremente a linha do abismo,
não atribuindo receios ao mar de areias movediças que se espreita ao longe.
Pode escurecer, mas não dentro, quando se tem o Sol nos olhos.
Os raios dourados entram, deslizam, dançam, com a doçura do calor.
As sombras estendem-se e ficam suaves, o risco das trevas ainda nem se anuncia.
Com o Sol nos olhos,
é despertada a melodia de um sorrir interior, sem esforço.
Estende-se a mão na distância,

envia-se uma flor em pensamento...



Luciano Martini

sábado, 3 de outubro de 2009

O Reino de Deus


A confusão começa quando achamos que as crianças tem o Reino por serem inocentes!
Ora, o Reino de Deus pertence as criancinhas, não por causa da sua inocência, mas sim, por causa da sua incompetência.




Luciano Martini

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Quero saber


Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição:
não nos compreender

Pablo Neruda

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Labirinto

Desperto de um pensamento longínquo com o cheiro de óleo queimado. É aqui por entre esta estrada tortuosa e o sicômoro da calçada que a vida passa - um filme cuja película já gasta ainda me assombra. O sol e a lua alternam-se iluminando a janela; inspiração e poesia são apenas sinais de fumaça e há muito, sou parte da paisagem emoldurada – quem me dera um eclipse, para desafiar certezas e transpor as coisas do seu lugar. Mas embrenhei-me pelo caminho. Um labirinto de trama bem urdida protege a saída e meu fio de novelo desgastou-se, virou poeira que baila entre raios de luz. Como falar do que desconheço? Não consigo entender! - Sequer, a mim. Aliás, neste tabuleiro de xadrez perdi o jogo e a ilusão, restam-me apenas os peões e uma torre. Fatiguei-me ao tentar salvar o que não tinha salvação. Aquela paisagem na janela é estática. O sol e a lua não! Vivem sua beleza, seus papéis, seus mistérios... Quanto a mim, esta fase de transformação é incômoda, é libertadora, é profunda, mas quase sempre triste e solitária.
E os minotauros espreitam, porém seus semblantes não assustam mais.
Luciano Martini

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Comunhão


Um pequeno poema
é na verdade um convite
para perceber o mundo
através das estrelas
que moram nos meus olhos

Um verso, então
é apenas um doce olhar
que procura comunhão


Luciano Martini

sábado, 19 de setembro de 2009

Fuga Interna


Nesta estranha sala de espera, olhos sutis me espreitam por entre samambaias e revistas. O odor forte de amônia desperta um cenário de hospitais sombrios, onde um choro agonizante invadia corredores e leitos desarrumados. A cidade silencia sufocando sua estridente sinfonia num sussurro tenebroso e fantasmagórico. O palpitar do coração me alerta que não estou só. meus medos e temores vieram para me fazer companhia.
As paredes vazias me contemplam, e onde repousavam quadros e fotografias, restaram marcas de bolor e manchas, desenhando estranhos rostos num muro de imaginação. Fecho meus olhos para escapar desta masmorra de realidade absurda, e na velocidade de um pensamento viajo para meu banco de praça em meu lugar secreto, e por alguns instantes consigo me ver ali sentando, recebendo as carícias de um vento quente que movimenta todo um cenário de encanto e familiaridade.
Em minha visão, eu simplesmente me deixo ficar ali. Todo dia.
Ainda espero aquela visita...



Luciano Martini

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Passantes


Somos sombras passantes
desafiando os séculos
anistiando sustos e sobressaltos
traduzindo no tempo
este absurdo de nós



Luciano Martini

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sem volta

"Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta o conhecimento aumenta a tristeza." Eclesiastes 1:18
Mas qual a minha alternativa?
A ignorância, a irracionalidade, o fanatismo???
Prefiro abraçar a tristeza...
Uma sinfonia triste ainda é melhor que um silêncio amargo.
Que venham os crepúsculos. Belos e tristes.
Luciano Martini

sábado, 12 de setembro de 2009

Fé, certezas e dúvidas.

“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam e a firme convicção de fatos que se não vêem” Se fé é a certeza, então não há lugar para dúvidas na vida do crente? Se formos sinceros teremos que confessar que as dúvidas, tanto quanto a fé, são nossas companheiras na vida cristã. Na verdade os que não têm dúvidas, não são os que têm todas as respostas, mas aqueles que ainda não fizeram todas as perguntas.
O homem de fé pode duvidar, como tantas vezes acontece. Mas é o homem quem duvida, não é a fé que carrega a dúvida. Fé é certeza na medida em que ela se fundamenta na graça de Deus, na intervenção do Senhor na minha vida.
Fé é um dom concedido por Deus, é obra de Deus, não minha. Vai para além de mim.
Mas ao mesmo tempo, a fé, em mim, convive com um mar de incertezas, uma vez que o infinito, para qual ela está orientada, é experimentado por um ser finito. A fé, então, é a certeza de esperanças e a certeza da existência do que não é totalmente apreendido pelos meus sentidos humanos imediatos, seja para perseverar, seja para andar contra tudo, seja para depender totalmente.
Fé é confiar, é depender, é duvidar das dúvidas, é certeza não quanto às respostas, é certeza no esperar, na esperança...
No Evangelho a fé não é uma elaboração intelectual ou filosófica, é uma dádiva concedida em Cristo, que justifica e salva: O justo viverá por fé.
A fé não é em si mesma, mas se projeta para além de si. Nele.
Fé na fé é crença, não é fé. A fé na fé vai bem enquanto o que nos cerca é contornável, é entendível, mas quando deixa de ser, então, tal fé não suporta o embate com a realidade, desfalece ante as circunstâncias.
Por outro lado, visto que a fé é algo que acontece “em nós”, é fácil entendê-la incorretamente como um produto da nossa própria vontade e poder, pensando que temos fé como fruto de nosso esforço. Embora seja correto afirmar que nossa fé é “nossa” fé, no sentido de que ela acontece em nosso íntimo, ela é de fato dom de Deus – Ele é quem produz em nós fé, através da atuação do Espírito Santo e da pregação da Palavra (... a fé vem pelo ouvir...).
Luciano Martini

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Imago Dei

“e vós sereis para mim reino de sacerdotes e uma nação santa.” Êxodo 19. 6
Sacerdote (em hebraico כהן )é a pessoa que estabelece uma ponte entre Deus e os homens. Um reino de sacerdotes – Na LXX a tradução “um sacerdócio real”, e 1Pd 2:9 segue esta tradução, bem como Ap 1:6; 5:10; 20:6 Todo o povo tornar-se-ia sacerdote, assim todos teriam direito de acesso livre a Deus, posteriormente a Reforma ressaltaria “o sacerdócio de todos os crentes”, referindo-se a este assunto.
Israel ia ser uma nação-sacerdote. Não que a nação seria composta por apenas sacerdotes, mas que ela serviria como uma nação sacerdotal. Estaria para ser, pelos projetos de Deus, a intermediária entre Deus e o restante de outras nações, para guiá-los até o Senhor, assim como a função sacerdotal era se por entre o Senhor e seu povo. Era desejo do onipotente que Israel fosse uma nação missionária para o mundo.
Portanto, ao convocar o povo para servir-lhe de sacerdotes, Deus os chama para mostrar ao mundo quem e como Ele é.
Aprouve a Deus se revelar ao mundo através de pessoas.
No primeiro mandamento o Senhor afirma “Eu sou o Senhor seu Deus...” para logo em seguida, no segundo mandamento, proibir a confecção de imagens para o representar (Ex 20, 1-4). Isto, em razão de que, na Antiguidade as pessoas conheciam seus deuses a partir de imagens. Fabricavam esculturas, pinturas e ídolos como representações físicas dos vulgos deuses em que acreditavam. A imagem do ídolo servia para revelar como e quem eram os seus deuses.
O nosso Deus, no entanto, é diferente.
Ele convida pessoas para serem seus sacerdotes, a mostrarem ao mundo como e quem Ele é, através de suas vidas. Não necessita de imagens e esculturas porque Ele usa pessoas para se revelar.
Somos sacerdotes, a graça de Deus em nossas vidas revela ao mundo a imagem de um Deus gracioso.
Um Deus perfeito que se revela através de pessoas imperfeitas.
Se bem que, na verdade somente uma pessoa conseguiu revelar a “expressa imagem” de Deus (Hb 1,3).
Jesus, homem.
Jesus, Deus.
Luciano Martini

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Luz Inacessível

Quanto mais se olha para o Sol, menos se consegue enxergá-lo. Sua intensa luminosidade ofusca nossa limitada visão. Um olhar ininterrupto na direção do Sol pode inclusive causar cegueira. Paradoxalmente o que esconde o Sol é sua própria luz. Pouca luz dificulta a visão, porém, muita luz a torna impossível. Deus é luz, e assim sendo, talvez seja impossível aos olhos humanos visualizá-lo. Nossa mente, assim como nossa visão, é limitada para a plena percepção e compreensão de Deus. Reconhecemos Deus, não em sua luz, mas através daquilo que Ele ilumina, das sombras que produz. Da cruz.
Não entendemos Deus a partir de sua essência, compreendemos Deus a partir da nossa experiência.
Só posso conhecer a Deus quando Ele se torna "meu" Deus, quando Ele me ilumina.
O conhecimento que temos de Deus não vem da nossa percepção, mas sim de Sua revelação. Para vermos o Pai temos que olhar para o Filho. Deus não nos mostra sua glória (como queria Moisés), antes nos convida para vê-lo em sua cruz.
Em Gênesis vemos Deus criando a ordem no contexto do caos. Ele não elimina as trevas para que permaneça a luz, apenas distingue-a. Tal qual no versículo da separação das águas. A porção seca surge num ambiente de águas. A água não é eliminada para que surja a porção seca. Assim o caos é o contexto onde se manifesta a ordem.
As trevas existem como um anteparo da realidade Deus. A criação não pode ser plena diante do Deus pleno, exceto se Ele abrir espaço, se Ele se esconder e nos deixar percebê-lo apenas pelas sombras, isto é, pela fé.
Se Deus se manifestasse absoluto na criação, nada existiria, pois o Absoluto a tudo enche, mas Deus para tornar possível a criação, se esconde, se esvazia. A criação por natureza tem sombras, como um véu que nos protege da luz de Deus. E quem quiser se aproximar dEle é preciso crer...
A partir Dele conseguimos distinguir as trevas da luz e somos chamados para sermos filhos da luz. Chamados a uma existência que denuncia as trevas, que se opõe a elas.
Como a Lua iluminamos o mundo, mas a luz não é nossa, só refletimos a luz que Ele nos empresta.
Luciano Martini

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Vida Criativa


Nas pessoas que clamam ter uma fé inabalada, o farisaísmo e o fanatismo são frequentemente a prova infalível de que a dúvida provavelmente foi reprimida ou de fato ainda está atuando secretamente.
A dúvida não é superada pela repressão, e sim pela coragem.
A coragem não nega que a dúvida está aí; mas ela aceita a dúvida como expressão da finitude humana e se confessa, apesar da dúvida, àquilo que toca incondicionalmente.
A coragem não precisa da segurança de uma convicção inquestionável.
Ela engloba o risco, sem o qual não é possível qualquer vida criativa.


Paul Tillich

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Desvarios


Quisera eu
transpor uma nuvem
com a alma pura,
com a alma terna,
com a alma bela.
E planar sobre o tempo,
num tapete de desvarios,
mergulhado no céu imenso.
Sonhar.
Pairando sobre calmarias
Apartado de tormentas,
Abraçado em gentis quimeras,
Alcançando o infinito
imerso entre estrelas.
E continuar sonhando,
que o dia e a noite juntamente
vestissem o horizonte
salpicando o sonho
de cores ternas,
de cores quentes,
de cores eternas.
E o sonho fosse uma tela.
Bela.



Luciano Martini

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vislumbres


Encantei-me com as nuvens, como se fossem calmos recantos de um pensamento pacífico. No vazio de tudo eram lembranças de um mundo deslumbrante. Em silêncio via-as deslizar em rastros de esperança e possibilidades luminosas. Tão suaves que aprisionavam minha atenção. Que melodia, que sinfonia, mas em silêncio na alva unânime!

Um sopro do devaneio que repousa num verso que não foi escrito, somente sentido.

Aquela dança despertava formas familiares, os cavalos, os barcos, as ondas, as montanhas, um sorriso...

Iam as nuvens revelando um novo caminho naquele deserto. Meus pés estavam secos, mas meu olhos viajavam por horizontes de ribeiros verdes.

No imenso prazer de ver um mar transparente, continuo a navegar em céu aberto, o olhar e o sonho.



Luciano Martini

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Só eu.


Onde percebes ilusão
eu vejo poesia
entre semi-deuses
eu tropecei na lancheria

Tudo pode ser
sem esperar acontecer
chuvas de verão, castelos de imaginação,
sempre viajei sozinho
em jardins de papelão

Sem tudo estar perdido, então.
Vou chorar um rio
Mas chorar a luz do luar,
Lagrimas de estrelas, emoção

Ser feliz é não saber, correr...correr...
E porque parar?
Deixa a dor não estar
Nunca mais

Seguir é não ter fim
Embalar-se neste crepúsculo laranja
Delicado como um poema
Luminoso como um picolé de limão


Luciano Martini

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Uma Oração


Quando dei por mim,
a luz incandescente daquele ocaso brilhava em meus olhos.
Então eu fiz uma promessa,
jamais permitiria que este mundo me cegasse novamente.
Essas foram as minhas palavras,
e ainda hoje, as ouço soar quando cruzo estas alamedas.
Minhas palavras se transformaram em música,
uma canção que embala meus dias mais sofriveis.
E esta música toca-me tão profundamente em meu íntimo,
que tornou-se uma oração.
Uma oração que me deixa mais forte.


E eu continuo crendo...


Luciano Marini

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mãos no bolso


Ainda há roupas no varal!
E velhos cabides reverenciam o tempo
festejando a dança das roupas.

O vento enxuga lembranças
de olhos secos em dias chuvosos

Aqueço minhas mãos enquanto
procuro meus bolsos
cheio de flores

Escrevo um verso:
- O inverno não é aqui !


Luciano Martini

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Há pessoas que transformam o sol...


Há pessoas que transformam o sol
numa simples mancha amarela,
mas há aquelas que fazem
de uma simples mancha amarela
o próprio sol.


Pablo Picasso

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Imagens Poéticas


Assim são as imagens poéticas:
elas tem o poder de ir
lá no fundo da alma
onde moram os esquecimentos.

E, quando um desses esquecimentos
acorda, a gente sente um estremeção
no corpo. é isso que faz a poesia.

Ela cata pedaços
perdidos de nós.


Rubem Alves

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Poetas e a História


A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores, conduziu às vitórias, acompanhou os solitários, foi queimante como o fogo, leve e fresca como a neve, teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera, teve olhos como a cidade de Granada, foi mais veloz do que os projeteis dirigidos, foi mais forte do que as fortalezas: deitou raízes no coração do homem. [...]Muitos governantes têm comunicação públicas com seus povos.
A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem.
Há que ouvir os poetas.
É uma lição da história.



Pablo Neruda

sábado, 1 de agosto de 2009

Que Pena



Preso
dentro do peito
passarinho se afoga...

Mas há vôos tardios
em movimentos de revoada.
Vão-se as aves
eis a vida
restam as penas.

Apenas.


Luciano Martini

quarta-feira, 22 de julho de 2009


Minha primeira lágrima
caiu dentro dos teus olhos.
Tive medo de a enxugar,
para não saberes que havia caído.



Cecília Meirelles

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Poetas e profetas, por Ricardo Gondim



Qual a diferença entre poetas e profetas?
Nenhuma. Deus é poeta porque gosta de comunicar-se com versos e metáforas. Sua linguagem, carregada de símbolos, é hermética, misteriosa, para o coração cru. Para entendê-lo, precisa-se de ouvidos espirituais, sensíveis ao êxtase transcendental. Quando Deus declama o universo baila.Os olhos de Deus procuram homens e mulheres que se disponham a encarnar seus sentimentos. Todo profeta foi chamado e enviado por Deus. Porque seu compromisso é com a vida, só a vida, Javé levanta homens e mulheres que se indignam com a sordidez, mas apaixonados com o sublime. Portanto, toda linguagem poética é profecia. Sua vocação sangra no texto, a expressão rítmica do coração de Deus vaza na tinta de sua pena. O poeta pressente o que deveria ser, mas não é; vê-se compelido a re-encantar os desanimados, a curar os desesperançados, a destilar beleza de mundos imaginários em terras áridas. A matéria prima do profeta é a poesia. Como um artesão de cristais, o profeta maneja as palavras de maneira simples, mas com delicadeza mágica. Ele deseja mostrar que o cotidiano, com suas contradições perversas, poderia seguir outra estrada. O profeta se despeja no texto como óleo perfumado, faz-se lenho do fogo que aquece a história. Desejoso de trazer os extremos numa síntese que promova o bem, não esquece que o único absoluto é o amor, que o único bem é vida e que o único alvo é a valorização do instante. Poetas e profetas rejeitam redomas, estufas, viveiros, gaiolas. Eles trocam os tapetes pelo chão batido. Solitários, só obedecem o compasso do próprio coração; indomáveis, revoltam-se com o ordinário; irrequietos, perturbam o normal. Poetas e profetas não defendem reputação. Alvos fáceis dos ímpios quando negam a história – só as gerações futuras lhes fazem justiça. Pedras do meio do caminho, chateiam; indestrutíveis, semeiam trigo que se fará o pão do idealista, do revolucionário.Poetas e profetas são contraditórios. Poetas e profetas são alados; vivem nas nuvens, mantêm perene parceria com os anjos; adoram no silêncio das montanhas; escutam a bruma dos vales; agasalham-se sob o manto platinado da lua. Os poetas não temem ausências, a solidão não lhes amedronta. Profetas são selvagens como os tigres e os poetas, enigmáticos como as águias.Poetas e profetas nasceram no pé do arco-íris; resgatados do Nilo, crescem como príncipes; sensíveis, choram com o ponteio da harpa; tornam-se parceiros dos humildes, dos mansos e dos puros de coração. Contudo, o destino deles é a cruz.
Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Outro mundo


Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim,
todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado,
feito de tijolos e de tempo urbano.
De repente, num dia qualquer,
a rua dá para um outro mundo,
o jardim acaba de nascer,
o muro fatigado se cobre de signos.
Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim:
tanto e tão esmagadoramente reais.
Sua própria realidade compacta nos faz duvidar:
são assim as coisas ou são de outro modo?
Não, isto que estamos vendo pela primeira vez, já havíamos visto antes.
Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim.
E à surpresa segue-se a nostalgia.
Parece que nos recordamos e queríamos voltar para lá,
para esse lugar onde as coisas são sempre assim,
banhadas por uma luz antiqüíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer.
Nós também somos de lá.
Um sopro nos golpeia a fronte.
Adivinhamos que somos de outro mundo...


Octávio Paz

terça-feira, 7 de julho de 2009

No Fundo do Olhar


nos olhos a suavidade do mar
em suas noites quentes,
escolhidas a dedo,
pra ser berço…

brisa marinha
(de hálito salgado)
Atravessa cordilheiras…
pra ir brincar de esconde-esconde nos cabelos.
Luciano Martini

sábado, 4 de julho de 2009

Um Sonhador


Entre o impossível e o sonho
subsiste a poesia
essa respiração de dentro
questionando a realidade de fora
no meio de tanto vida amorfa
um lirismo perdido e vivo
uma teimosia, uma resistência, um olhar, um acidente
onde apatia e conformismo é norma
entre tantos entretantos e seres sem tempo
de imaginar um dia melhor


Luciano Martini

terça-feira, 30 de junho de 2009

Eu tenho um plano


Eu tenho um plano...

Vou mandar fazer um terno laranja e comprar sapatos dourados para festejar a alegria de viver, dançando desajeitadamente até que a minha pele transpire luz e a minha boca profira perfumes.
Vou tatuar em meus olhos a figura de um menino com sua pipa, para que jamais falte o júbilo da inocência em meu olhar.
Vou cruzar esquinas e praças a procura dos seresteiros que cantam ao luar e, no contorno dos dias amarram fitas brancas nas sinaleiras.
Vou criar um sinal secreto para que todos os poetas da vida me reconheçam, e ao cruzarem por mim nas avenidas da cidade, possam acenar com lenços de estrelas.
Vou comprar um relógio que não marque as horas, mas distinga os momentos cruciais do dia, para que eu possa valorizá-los devidamente.
Vou me fingir de morto, mas estarei pronto a renascer, quando uma saudade despertar, ao som de um pôr de sol inesquecível.
Vou me preparar, para que no momento certo eu possa recitar o verso encantado que transforma pedra em sorrisos.
Vou fazer de conta que me perdi no parque, para que possa ser encontrado ao pé daquela paineira que planta flores em meus poemas.
Vou me fazer de desentendido, mas a noite arquitetarei projetos para mudar o mundo.

Eu tenho um plano...




Luciano Martini

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Uma outra estória


Uma outra estória surge em mim
Como o brotar de águas
Ou a queda brusca e mansa
Das cachoeiras mais altas
Uma terna percepção que me toma
Entre vislumbres e domínios
Entre lágrimas e cílios
Entre brisas e varandas
Nas mais densas melodias
Risos e melancolias
Passeiam por entre o pinho
E por mim criam seus ninhos


A vida é outra, mas eu
continuo o mesmo...


Luciano Martini

sábado, 20 de junho de 2009

Canção de Ninar

Dá-me imagens para que eu possa sonhar e, perdoa-me se a luz dos meus olhos não carrega a luminosidade dos crepúsculos que irresponsavelmente tento descrever. Meu encanto por passagens secretas e corredores de biblioteca, vez por outra, me confundem, porém é através deles, que descubro os mais belos jardins de névoas coloridas e os pianos que tocam canções do passado quando a gente fecha os olhos.
Eu amo o outono, mas sou parte do inverno e carrego flores no meu bolso para me lembrar da primavera. Eu canto, mas meu canto é monótono, porque fiquei preso entre dunas de minha meninice e a bela praia de ondas perfeitas, onde surfo todos os dias, quando me deito entre travesseiros e edredons. Eu tentei aprender poesia com um poeta que conheci numa encosta com vista para baía, onde o mar era verde e as pedras azuis.
Eu costumava carregar na mão direita um livro e na mão esquerda um caderno dos mais belos poemas, até que um dia, uni minhas mãos e braços num abraço e, o caderno e o livro se confundiram tornando-se um só.
Eu tenho um banco no parque que divido com mendigos e pássaros.
Todos passam por ele e não percebem o quanto é especial. Pois no dia certo, na hora certa, com a melodia certa e com o aroma certo; um raio de sol o ilumina transformando-o em um portal de brisas medievais.


E a gente sonha outros sonhos...





Luciano Martini

A Volta


O sol
irremediavelmente volta
por trás de castelos sombrios
Tímido brilha
entre neblinas
quase displicente
acorda alegria
um sorrir secreto
por dentro
renasce um dia
letra e música
compõe minha melodia.


Luciano Martini

terça-feira, 16 de junho de 2009

Passado em direção ao Futuro


Por tantas salas tenho passado
quantas coisas tenho escutado
em tantas portas, entrado

Coisas misteriosas e belas,
mas meu maior fascínio,
continuam sendo as janelas...

Luciano Martini

domingo, 14 de junho de 2009

Travessia Junina




A estiagem prolongou-se demais levando meu brinquedo preferido.
O sol poente alimenta e fere os olhos castanhos da inocente fantasia. Lágrimas secas rolam de semblantes serenos e olhos disfarçados. A esperança é uma nuvem d’água, mas essa migrou para um mar revolto, distante...
Aquele sonho está agora aprisionado em solo ressequido, meu olhar suplica um pouco de carinho, mas eu continuo em meu caminho. Meus amigos brincam de esconde-esconde, uns na jardineira engolidora de poesia, enquanto outros, a sobrevida acabou de fechar-lhes os olhos. Na travessia junina uma momentânea alegria me acalma.
Perco-me propositadamente de meus mapas e sigo por um sorriso que brilha como uma manhã nunca vista. O caminho parece diferente, debaixo de uma grande árvore, com galhos de folhas mortas, uma voz sopra sussurros de forma enigmática:


– Voltarás a sonhar... O céu te dará asas... O amanhã não está pronto...




Luciano Martini

quarta-feira, 10 de junho de 2009


"Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre, "


Fernando Pessoa

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Amanhã...


Amanhã, farei das lembranças o meu consolo e minha alegria, e abrirei em laços o meu abraço, até transformar solitários em solidários. Verei com óculos de poesia todas as coisas, para que a minha riqueza, despojada de bens, seja farta em afetos e experiências. Fecharei os olhos para ver melhor e, ao crepúsculo, serei consumido e consumado pelas chamas que ardem no lado avesso do meu ser.


Luciano Martini

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Tudo que este outono ensina


Céu borrado de nostalgia.
No horizonte, uma clareira de azul celeste aconchega num abraço de lã, toda a restante abóbada transbordante de cinza. As árvores enamoradas deste fio de vento que chilreia nas folhas, dançantes, suplicam ternura , deixando-se despir, tiritantes de frio.
Tráfego de vento, sob fios de sol transluzente no amarelo-sangue do folhedo, os ramos enegrecidos emergem, tais braços expostos em sua nudez.
No chão uma laranja barriguda, jaz abandonada no seu amarelo-crepúsculo, a testemunhar a outonal fecundidade, rogando não ser esquecida.
Há estacas abandonadas, despidas de cuidados, e os resquícios acobreados da folhagem, dizem-nos que a terra madorrenta vai repousar do parto das colheitas suavizando-nos a alma de nossa melancolia.
A vida.
Encenada em cânticos de vento no folhedo—sucessão de mistérios e o homem no seu abandono testemunhando o refulgir das estações.
Da terra fecundada , sabemos que reclama uma pausa.
Das floreiras nem sempre rosas. Da vida nem sempre vida.
Esta letargia, nostálgica doçura, em sinfonia de galhos e ventos, culminou ali, num amontoado de folhas esvaídas, para nela inquirirmos da nossa significância no outono da vida.
As folhas não caem em vão!
Evocam a brevidade de nossos dias.
O outono das pinceladas de azul-água, castelos cinzentos no céu e o cantarolar das árvores nuas, imploram-nos um olhar demorado sobre este breve viver.
Por que caem as folhas?

Pela esperança de serem colhidas...



Luciano Martini




Será que realmente as rosas não falam ?
Ou simplesmente, somos nós que não conseguimos ouvir...


Luciano Martini

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Descaminhos


Ando lento
no rastro que crio
nesta estrada impossível
entre baús de tesouro
deixo migalhas no caminho
mas só o silêncio me segue

Luciano Martini

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Uma história verídica

Quando visitei Paris pela primeira vez, decidi fugir por alguns momentos dos lugares comuns que todos querem conhecer: Torre Eiffel, Notre Dame, Musée du Grand Louvre, Arco do Triunfo, Champs Elysées, etc... (todos maravilhosos por sinal!).
Eu queria dar uma escapada e, cruzar por aquelas ruelas luminosas parisenses como quem descobre a anatomia da cidade.
Então, saí sem destino certo, por entre aquela paisagem urbana. Passei por padarias onde pessoas compravam suas baguetes e croissants, vasculhei livrarias com aromas que me lembravam museus, sentei em cafés iluminados por luzes indiretas, assisti a apresentações improvisadas de músicos de rua e observei pintores desenhando telas a beira do rio Senna.
Foi aí , em uma rua muito estreita e movimentada, que eu encontrei um senhor que segurava folhas amareladas, oferecendo-as ao transeuntes que por ali passavam.
Me aproximei e tentei sustentar um diálogo, já que eu falava uma mistura de inglês com português e ele me respondia em um francês misturado com espanhol.
Perguntei-lhe o que ele estava vendendo, e ele para minha grata surpresa me disse que vendia poemas.
- Que tipo de poemas? Continuei perguntando.
- Poemas para .............. (por mais que eu tente não me lembro do nome que ele me disse)
- Quem é ela ? (todos poemas eram dedicados à mesma mulher)
Ele me respondeu: - Foi um grande amor !
Aquele diálogo estava ficando muito interessante, a ponto de eu lamentar não falar francês para inquiri-lo a respeito daquela surpreendente história. Então, limitado em meu vocabulário, só pude perguntar-lhe se ela tinha morrido.
O velho francês ficou sério e me disse:
- Não, simplesmente a perdi...
Pelo que eu pude entender, ele a tinha perdido (ele não me disse como, se disse, não entendi).
Depois disso se mudara para Paris e ganhava a vida vendendo poesia, na sua maioria em homenagem a ela.
Fiquei fascinado com aquilo, catei em meus bolsos alguns trocados e comprei-lhe um poema. Fiquei de pé em frente dele, lendo em voz alta os seus versos (estavam em espanhol).
Quando terminei, olhei para aquele rosto que me despertara tanta simpatia e completei:
- Sua história é bela, porém, triste!
O homem assentiu de maneira pesarosa, comovendo-me.
Ao despedir-me, na esperança de confortá-lo, acrescentei:
- Talvez algum destes poemas acabe encontrando-a.
Ele sorriu.
- Talvez...
(Que saudade de Paris!)
Luciano Martini

terça-feira, 19 de maio de 2009

Parece que um navio

Parece que um navio estranho
Passará pelo mar, a certa hora.
Não é de ferro nem são alaranjadas
Suas bandeiras,
Ninguém sabe de onde
Nem a hora,
Tudo está preparado
E não há melhor salão, tudo disposto
Ao passageiro acontecimento.
A espuma está disposta
Como uma alfombra fina,
Tecida com estrelas,
Mais distante o azul,
O verde, o movimento ultramarinho,

Tudo espera.
E aberto o rochedo,
Lavado, limpo, eterno,
Espalhado na areia
Como um cordão de castelos,
Como um cordão de torres.
Tudo está disposto,
O silêncio está convidado,
E até homens sempre distraídos,
Esperam não perder a presença;
Vestiram-se como em dia Domingo,
Lustraram as botas,
Pentearam-se.
Estão ficando velhos
E o navio não passa.

Pablo Neruda

segunda-feira, 18 de maio de 2009


Eu sei que estou vivendo uma despedida
e em razão disso, meu olhar
tem olhos mais ternos.


Luciano Martini

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Buscas e Descobertas


Desnuda-me palavra por palavra
deixa-me sair da epiderme
que me envolve
nesta camuflagem que inibe
gestos, aromas
ritmos sedentos do meu ser.

Desnuda-me…
despindo-me de segredos,
medos, vontades contidas em soluços.

E depois..
veste-me de silêncios….

Luciano Martini