terça-feira, 28 de setembro de 2010

Eu tenho um plano


Eu tenho um plano...
Vou mandar fazer um terno azul e comprar sapatos dourados para festejar a alegria de viver, dançando desajeitadamente até que a minha pele transpire luz e a minha boca profira perfumes.
Vou tatuar em meus olhos a figura de um menino com sua pipa, para que jamais falte a inocência em meu olhar.
Vou cruzar esquinas e praças a procura dos seresteiros que cantam ao luar e, no contorno dos dias amarram fitas brancas nas sinaleiras.
Vou criar um sinal secreto para que todos os poetas da vida me reconheçam, e ao cruzarem por mim nas avenidas da cidade, possam acenar com lenços rasgados.
Vou comprar um relógio que não marque as horas, mas distinga os momentos cruciais do dia, para que eu possa valorizá-los devidamente.
Vou me fingir de morto, mas estarei pronto a renascer, para que no momento certo eu possa recitar os versos que transformam pedra em sorrisos.
Vou me fazer de estúpido, mas a noite arquitetarei projetos para mudar o mundo.
Eu tenho um plano...



Luciano Martini

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Passeio na Redenção


Quero passear no Parque da Redenção e fazer passarinhar todos os bons propósitos que desafiam a minha fé. Enterrarei num jardim de hortênsias essa frustação alheia que definha o meu ego arrastado pela vaidade.
Trocarei minhas horas preciosas por horas ociosas e, recostado num banco de praça, darei milho aos pombos e cantarei com os mendigos que, deitados na grama, escarnecem da agonia do tempo.
Banharei a minha retina naquele lago pontilhado de moedas faiscantes de prata e, peito aberto sob o chafariz, secarei a fonte ininterrupta da minha insensatez. Serei belo como aquele tronco nodoso de uma velha castanheira que, retorcida de braços, abraça o Sol para em seus pés irradiar sombras.
Trilharei uma tarde irresponsavelmente feliz, liberto dessa potência que recobre de fúria a minha excessiva fragilidade. Acreditarei na vertigem do disfarce que a brisa quente empresta ao meu rosto e, numa antiga roda gigante, renascerei com a inocência das crianças que sorriem poemas azuis.
Definitivamente será minha redenção...


Luciano Martini

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A fé dos sonhadores

Sirvo a fé dos sonhadores!
dos indivíduos mais estranhos
e não se engane; batalhadores
que em celeuma própria
e em consciencia sóbria
lembram da sua esperança
e pensam: -Todo o resto? sobra

Sigo uma fé doida e desvairada
uma fé doída e doada
ao mesmo tempo(e em grande escala)
não se sabe quando a alegria começa
e quando a saudade se espalha

Sigo uma fé, um rosto e um rumo
vislumbro uma cruz, que era pra mim!
rio de todos, e todos riem de mim!
e minha fé ri mais alto ainda!

Estou a mando da fé....

E se você quiser conhecer
este Reino de peculiar beleza,
derrame sua vida em cima da mesa!
tropece, dance, cante, coma sobremesa
antes do almoço, sonhe antes de dormir,
grite gol antes de começar o jogo,
pois é: siga sua fé

E continue a mando.


Luciano Martini