terça-feira, 29 de março de 2011

Pássaros


Dentro de mim
já morreram muitos
pássaros

Porém,
os que sobreviveram,
estão livres...


Luciano Martini

sexta-feira, 25 de março de 2011

Esta noite


Tempestade

noite escura e fechada

Nos meus olhos há estrelas



Luciano Martini

Dores de Parto


Os poemas que me habitam

me ardem e atormentam

pela minha incapacidade

de pronunciá-los


Sou! e isso é bem mais

do que cabe em linhas



Luciano Martini

segunda-feira, 21 de março de 2011

Tudo que o outono ensina

Céu borrado de nostalgia.
No horizonte, uma clareira de azul-celeste aconchega num abraço de lã, toda a restante abóbada transbordante de cinza. As árvores enamoradas deste fio de vento que chilreia nas folhas, dançantes, suplicam ternura , deixando-se despir, tiritantes de frio.Tráfego de vento, sob fios de sol transluzente no amarelo-sangue do folhedo, os ramos enegrecidos emergem, tais braços expostos em sua nudez. No chão uma laranja barriguda, jaz abandonada no seu amarelo-crepúsculo, a testemunhar a outonal fecundidade, rogando não ser esquecida. Há estacas abandonadas, despidas de cuidados, e os resquícios acobreados da folhagem, dizem-nos que a terra madorrenta vai repousar do parto das colheitas suavizando-nos a alma de nossa melancolia.
A vida.
Encenada em cânticos de vento no folhedo—sucessão de mistérios e o homem no seu abandono testemunhando o refulgir das estações.
Da terra fecundada , sabemos que reclama uma pausa.
Das floreiras nem sempre rosas. Da vida nem sempre vida.

Esta letargia, nostálgica doçura, em sinfonia de galhos e ventos, culminou ali, num amontoado de folhas esvaídas, para nela inquirirmos da nossa significância no outono da vida.
As folhas não caem em vão! Evocam a brevidade de nossos dias.

O outono das pinceladas de azul-água, castelos cinzentos no céu e o cantarolar das árvores nuas, imploram-nos um olhar demorado sobre este breve viver. Por que caem as folhas?

Pela esperança de serem colhidas...


Luciano Martini

sexta-feira, 18 de março de 2011

Falta de Inspiração

Há silêncios congelantes
Em tudo: eis a alma
A temer o papel
Em branco, mundos, lápis, mudos...



Luciano Martini

sexta-feira, 11 de março de 2011

Medo de altura


Alturas da vida que trazem vertigem
de rever o mil vezes visto
de tentar o mil vezes tentado

Alturas em que o desalento espreita,
em suave espera.


É preciso uma certa dose de esforço para ser.







Luciano Martini