quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Feliz Natal


Neste Natal, rogo a Deus ressuscitar a criança escondida em algum recanto de minha memória, de que um dia fui, menino que sabia confiar e, desprovido da canseira de existir, livre das agruras do tempo, era capaz de imprimir fantasias coloridas ao lado obscuro da vida.

Quero um Natal de celebração a alegria de viver, hinos a gratidão da fé, odes a inefável magia de sonhar.
Natal cujo presépio seja o meu próprio coração, no qual o Menino Jesus desfaça laços e faça desabrochar todo o amor que se oculta nos sombrios porões do meu ser.

Luciano Martini

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal sem pressa


Em pé neste cruzamento sem pressa nenhuma, eu penso que quando o verão tiver acabado e as nuvens negras anunciarem o outono, esta dor que sinto agora já terá ido embora, ou talvez, substituída por outra. Mas como dizia o poeta, tudo vale a pena para quem não tem a alma pequena.

Em pé nesse cruzamento, me ponho a lembrar por quantos caminhos trilhamos sozinho, mas sem pressa nenhuma descobrimos nosso destino, e nossa alma recusa esta prisão dourada e almeja voar com os outros pássaros.

Em pé nesse cruzamento, eu posso ver alguns estranhos passando por mim carregando uma certa dignidade. Quantas histórias vividas trazem esses olhos cansados, que ora me encorajam, ora me enfraquecem. Tudo já foi feito até chegarmos neste eito, amigo, e hoje eu não tenho pressa alguma.

Em pé nesse cruzamento, eu posso sentir o cheiro de chuva e terra molhada, quando fecho meus olhos, mesmo que não haja nuvens. São minhas lembranças que brincam de roda, e despertam um menino tímido que vem me visitar todos os natais.

Calmamente neste cruzamento, sem desejo de correr, não há nenhuma pressa quando tudo foi dito e feito. Então deixe-me aqui por alguns instantes atrapalhando o trânsito, parado nesta encruzilhada da vida.

Porque hoje, eu não tenho pressa nenhuma...


Luciano Martini

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008


...para que olhas tu a cidade longínqua?
tu és a cidade longínqua.[...]

Fernando Pessoa

sábado, 13 de dezembro de 2008

O Evangelho Maltrapilho


“O pecador salvo está prostrado em adoração, perdido em assombro e louvor. Ele sabe que o arrependimento não é o que fazemos para obter o perdão; é o que fazemos porque fomos perdoados. Ele serve como expressão de gratidão em vez de esforço para obtenção do perdão. Portanto, a seqüência: perdão primeiro e arrependimento depois (e não arrependimento primeiro, perdão depois) é crucial para a compreensão do evangelho da Graça.”


Brennan Manning

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Caminhando e aprendendo andar



Por minhas trilhas de busca
acabei achando o que estava procurando:
o privilégio de simplesmente andar



Luciano Martini

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Religião Não!


Oração é como um sorriso
tem que ser sincero, espontâneo,
para valer a pena.

Oração encomendada, mecânica, teatral
vale tanto quanto um sorriso amarelo...

(Por isso o perfeito louvor brota da boca dos pequeninos, por acaso, você já viu uma criança com um sorriso falso?)

Luciano Martini

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hoje, foi diferente


Hoje, se não houvesse pressa,
nenhuma sinaleira poderia me deter

Fugiria em cada recordação
cerrando os olhos para enxergar
como naquela praça,
onde ficava um balanço
que me fazia voar...

Instantes que pensei que nem fosse
mais lembrar,
vieram de novo,
hoje, me fazer sorrir...

Luciano Martini

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Aniversário segundo Rubem Alves

A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe.Fósforo que foi riscado.Nunca mais acenderá.Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário.Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pensar é Transgredir

"Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar o nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. muita inquietação por debaixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema: pensar nem pensar"
Lya Luft

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Conchinhas


eu
cato conchinhas na beira da praia
a procura da concha perfeita
a brisa marinha esvoaça meu rosto
e meu olhar se desvia no horizonte
o crepúsculo incendeia o fim do dia
e eu
penso
talvez já tenha encontrado...


Luciano Martini

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O ratinho que sonhava com a lua.


Este final de semana eu ouvi uma palestra onde o interlocutor dizia:
- Conheci um ratinho que pensava que a lua era feita de queijo. E ele passou a vida inteira sonhando em comer a lua, que grande tolo!
- Nós não podemos ser como este ratinho, temos que ter metas alcançáveis.
Fiquei ouvindo aquilo e pensando: Ele pode entender de metas, mas definitivamente, não entende nada de sonhos. Quem vive atrás de metas são os engenheiros, os políticos, os empresários, os contabilistas, os chatos, etc...
Os poetas, os profetas, vivem atrás de sonhos. São sonhadores...
Então vou te dizer, eu também conheci este ratinho. E de tolo, ele não tinha nada. Deixe-me descrevê-lo:
Ele sonhava comer a lua ! E contava este sonho para todos os seus amigos. Só que quando ele contava, ele falava com paixão, seus olhos brilhavam, muitos queriam ouví-lo. Ele descrevia a lua com uma riqueza de detalhes que impressionava, era capaz de descrevê-la em todas as suas quatro fases. De repente, com a mesma intensidade do início, ele parava. Olhava para cima alguns instantes, sorria e suspirava, para logo depois acrescentar: Um dia eu vou até lá...
Todos se admiravam com sua paixão, e por causa daquele ratinho sonhador, muitos outros começaram a sonhar.
Em certas ocasiões, ele desanimava.
Mas, era só até as nuvens desaparecerem e revelarem novamente o luar.
Quando seu olhar encontrava a lua, ele voltava a sorrir, a cantar, a sonhar...
Este sonho era tão envolvente, apaixonante, que ele se tornou poeta, e escreveu diversos poemas em homenagem a lua, e cada um que lia, fechava os olhos e sonhava com a luz do luar.
É bem verdade, que ele nunca conseguiu ir até a lua.
Mas, os outros ratinhos, nós nem conhecemos, nem nos lembramos deles, simplesmente passaram.
Porém, aquele ratinho, que sonhava com a lua, ninguém esquece. Ele era diferente!
Até hoje quando os ratos se encontram para botar a conversa em dia, alguém comenta:
-Vocês se lembram daquele ratinho que era poeta?
E na mesma hora, todos voltam o seu olhar para a lua, sorriem e dizem:
- Como poderíamos esquecê-lo !

*
( Enquanto a lua existir, dará o testemunho, daquele que passou a vida sonhando com ela.)

Luciano Martini

Influência


Quem vive perto das flores, corre o risco de ficar colorido.


Luciano Martini

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Busca


Sigo, a passos incertos
Procurando suas marcas nos caminhos abertos
Pelo meu caminhar
Sigo suas pegadas, invisíveis
A esmo deixadas, inesquecíveis...
Sob a fina luz do luar



Luciano Martini

sábado, 18 de outubro de 2008

O Galo que cantava para o Sol nascer.


Era uma vez um galo que acordava bem cedo todas as manhãs, e dizia para a bicharada do galinheiro:- Vou cantar para fazer o sol nascer…
Ato contínuo, subia até o alto do telhado, estufava o peito, olhava para o nascente e ordenava, definitivo:- Có-có-ri-có-có…E ficava esperando.
Dali a pouco a bola vermelha começava a aparecer, até que se mostrava toda, acima das montanhas, iluminando tudo. O galo se voltava, orgulhoso, para os bichos e dizia:
- Eu não falei?
E todos ficavam boquiabertos e respeitosos ante aquela maravilhosa demonstração.
E se o galo ficasse rouco? E se esquecesse a partitura? Quem cantaria para fazer o sol nascer? O dia não amanheceria.
Aconteceu que certa madrugada o galo perdeu a hora. Não cantou para fazer o sol nascer.
E o sol nasceu sem o seu canto.
O galo acordou com o reboliço no galinheiro. Todos falavam ao mesmo tempo.
- O sol nasceu sem o galo… o sol nasceu sem o galo…
O pobre galo não podia acreditar naquilo que seus olhos viam: a enorme bola vermelha, lá no alto da montanha. Como era possível? Teve um ataque de depressão quando descobriu que não era seu canto que fazia o sol nascer. E a vergonha era muita.
Passou-se muito tempo sem que se ouvissem o cantar do galo, de deprimido e humilhado que estava.
Até que, uma bela manhã, o galinheiro foi despertado novamente com o canto do galo. Lá estava ele, como sempre, no alto do telhado, peito estufado.
- Está cantando para fazer o sol nascer?, perguntou o peru em meio a uma gargalhada.
- Não, ele respondeu. Antes, quando eu cantava "para" fazer o sol nascer, eu era um tolo.
Mais agora eu canto "porque" o sol nasce!
Não sou mais tolo, agora virei poeta...


(Este estória foi divulgada pelo Rubem Alves, eu só dei uma "adaptada")

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Meu olhar


Meus olhos não sabem nadar
e deve ser por isso que
meu olhar
sempre se perde no mar...

Luciano Martini

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Caminho


“Mais cedo ou mais tarde você irá perceber, assim como eu percebi, que há uma diferença entre conhecer o caminho e andar por ele.”


Morpheus (Matrix)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Estranho Poema...


Eu sou estranho...

Eu sinto falta de
lugares que nunca conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
Eu sou estranho...
Eu guardo
sonhos interrompidos
e pequenos detalhes
que aos outros passam desapercebidos
Eu sou estranho...
Eu me arrependo
de coisas que eu não mudei
flores que não admirei
ondas que não surfei

Eu sou estranho...
Estranho
como a brisa gelada desta manhã
que mesmo em plena primavera
resiste e sopra...

Estranho
como esta brisa que carrega
a lembrança de um outono inesquecível.

Luciano Martini

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Portas...


Portas...
ou seriam apenas metáforas
deixando escapulir murmúrios,
encerrando passados,
ouvindo-se passos.
O sentido de abrir-se e fechar-se,
de parecer fechada sem estar,
frestas onde a luz se insinua,
sombras, movimento,
segredo.

Portas...
lugares que não nos são permitidos,
mistérios e enredos,
testemunhas de dias.
Lugares de decisão,
discernimento, direção.
Potenciais de futuro
trancas e ferrolhos,
dobradiças que rangem
que convidam, assombram,
metáforas,

ou seriam apenas portas...

Luciano Martini

Minha pretensão ( Ricardo Gondim)

Tenho pouquíssimos milagres para relatar como pastor. As igrejas que pastoreei não explodiram numericamente e não sobra dinheiro na tesouraria. Os meus sermões saem à custa de muito suor, estudo e, vez por outra, lágrimas. Minha comunidade é composta de gente comum, que luta diariamente contra as circunstâncias cruéis da sociedade brasileira; meu povo não prospera como ouço falar de outras igrejas.
Não tenho a pretensão de rivalizar com os inteligentíssimos mestres da teologia fundamentalista. Eles sempre dão um banho quando rechaçam os meus argumentos. Eu seria inapto para fundar qualquer escola de pensamento ou movimento religioso. Simplesmente não tenho cacife para tanto.
Estudo feito um condenado. Não tenho boa memória. Sou tímido em minhas relações pessoais. Nem que tentasse conseguiria ser a alegria da festa. Não sei dançar. Quando canto sou um desastre.
Prefiro ambientes intimistas. Alguns me têm por arrogante, na verdade sou introvertido...
O que busco? Tão somente oferecer-me como amigo e dar o ombro aos cansados. Quero dividir as minhas inquietações com os que duvidam e a minha esperança com os que sonham com um mundo melhor; sem estardalhaços, sem messianismos e sem falsidade. Vou passar por esta vida apenas uma vez e, mesmo atabalhoado, quero contribuir de alguma forma. Só isso...
Soli Deo Gloria.

domingo, 28 de setembro de 2008

No Entanto

no entanto esperam sempre
enquanto o passar dos dias se confunde
com nossas histórias e anseios
E o calendário do meu rosto adormece
em carruagens coloridas de nuances
nos caminhos sem setas
onde as sombras guardam encantos e segredos
nos bancos de madeira solitários
que no entanto esperam

sempre...


Luciano Martini

segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Da minha varanda
o mundo parece tão pequeno
embora meu jardim pareça cada vez maior


Luciano Martini

Ter dançado em meus sonhos
foi melhor do que
nunca ter dançado...


Luciano Martini

quarta-feira, 17 de setembro de 2008


De tanto puxarem o meu tapete,
De tanto ter a sensação de que o chão sumia sob meus pés,
é que eu aprendi a voar...


Luciano Martini

"Quando tudo tem uma resposta é porque é falso. O mistério é a verdade".

Sean Penn

segunda-feira, 15 de setembro de 2008



Há sempre um velho balanço de pracinha, esquecido na memória da gente...


Luciano Martini

Em meu olhar
guardo flores desta primavera
para quando o outono chegar
¨¨
Luciano Martini

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O ocaso sepulta o brilho no horizonte,
mas no fundo de minha alma,
meus íntimos vivem...


Luciano Martini
"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar."
Rubem Alves

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O velho e o menino


O velho conduzia carinhosamente o menino até a beira daquele mar de um azul profundo, que parecia encerrar o horizonte em sua imensidão. Em suas águas, a maré desenhava uma explosão de cores emanando um brilho prateado, que de tão intenso ofuscava o olhar. A maresia espalhava sua fragância, convidando aventureiros a descobrirem seus segredos; piratas de sonhos em navios de poesia.
A brancura daquela areia fazia lembrar a neve inascessível de montes rochosos, porém ao invés de calafrios, oferecia conforto em afagos de sensações mornas, como abraços aconchegantes que cobriam seus pés.
O menino com a pele morena, revelando sua familiaridade com o astro-rei, possuía uma cabeleira de cachos dourados, como o trigo em época de seara. Ele olhava encantado aquele cenário celeste, encenando em seus lábios inocentes um breve sorriso em resposta a tamanha dádiva da natureza.
Soltando um breve suspiro, balbuciou:
- Um dia eu vou surfar estas ondas!

O velho, de cãs simpáticas e olhos marcados pelo tempo, com a sabedoria de quem já experimentou o sabor da vida , vislumbrou a força daquele momento, e com um ar de condolência e gravidade, setenciou:
- Filho, você é muito jovem para entender, mas acredite neste velho marinheiro !
E com os olhos marejados, completou:

- A vida não pode ser adiada...

¨¨
Luciano Martini

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Os meus sonhos o vento não pode levar
A esperança encontrei no teu olhar


( O Tempo, Oficina G3, vale a pena ouvir)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Eu sou assim


Hoje eu sou um reflexo do que tentei ser
resultado daquilo que não consegui
sou mosaico de estórias
menino que se perdeu no parque

sou sempre busca
sou sempre sonho
um poeta que habita em mim
mas, naquele parque
quase sem querer...

... encontrei um jardim.

Luciano Martini

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As Flores


As flores não precisam ser entendidas para serem apreciadas.
Se formos estudá-las teríamos que arrancar suas pétalas, raspar seu caule, esmagá-las para serem vistas num microscópio... e assim quebraríamos o seu encanto.
As flores são belas por serem livres.
Belas... simplemente belas.
Existem coisas que precisam ser entendidas, mas existem "outras" coisas que existem só para serem admiradas.
O problema de se estudar muito as flores é que começamos a nos esquecer de desfrutar do seu perfume...


Luciano Martini

sábado, 23 de agosto de 2008

Tua Varanda

Voa com as asas de meus olhos
e partilha da minha constelação
nesta metamorfose de cores.
Que surpresa trará a brisa que passa
entre suas fragâncias e melodia?
Captura a luz deste ocaso
e pinta de púrpura o teu caminho
Faz com que as orquídeas
combinem com o teu sorriso
e subsista em ti esta doce ternura
este anoitecer mágico
na varanda que espreita
esta sombra viajante
que deixa marcas
em forma de pegadas...

Luciano Martini

Epifania


Afagas o mundo todo
com os teus abraços
e encerras em teus lábios
o segredo da minha existência
Teus olhos acalmam os mares
e impedem tremores de terra
Nas tuas mãos escondes maravilhas
que povoam nossos sonhos
e todos os dias renascem novas histórias
O teu peito é a minha cama,
porque me embala e me eleva
sempre que a respiração acelera
Os teus dedos são voláteis,
descobrem tesouros escondidos
e põem-me flores no caminho
mesmo depois da Primavera
Eu durmo de espírito limpo,
aos pés da tua cama,
todas as noites perto do Paraíso.


Luciano Martini

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O Pássaro Encantado

Era uma vez uma menina que tinha como seu melhor amigo um pássaro encantado. Ele era encantado por duas razões. Primeiro, porque ele não vivia em gaiolas,vivia solto, vinha quando queria. Vinha porque a amava. Segundo, porque sempre que voltava suas penas tinham cores diferentes, as cores dos lugares por onde tinha voado. Certa vez voltou com penas imaculadamente brancas, e ele contou estórias de montanhas cobertas de neve. Outra vez suas penas estavam vermelhas, e ele contou estórias de desertos incendiados pelo sol. Era grande a felicidade quando eles estavam juntos. Mas sempre chegava o momento quando o pássaro dizia:"Tenho de partir." A menina chorava e implorava:"Por favor, não vá. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar..." "Eu também terei saudades", dizia o pássaro,"Eu também vou chorar". Mas vou lhe contar um segredo! Eu só sou encantado por causa da saudade. É a tristeza da saudade que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. E eu deixarei de ser o pássaro encantado. E você... deixará de me amar. "E partiu... A menina, sozinha, chorava. E foi numa noite de saudade que ela teve uma idéia:"Se o pássaro não puder partir, ele ficará. Se ele ficar, seremos felizes para sempre. E para ele não partir basta que eu o prenda numa gaiola." Assim aconteceu: a menina comprou uma gaiola de prata, a mais linda. Quando o pássaro voltou eles se abraçaram, ele contou estórias e adormeceu. A menina, aproveitando-se do seu sono, o engaiolou. Quando o pássaro acordou, deu um grito de dor. "Ah! menina, o que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feia se eu me esquecerei das estórias. Sem a saudade o amor irá embora." A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por acostumar. Mas não foi isso que aconteceu. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se em um cinzento triste. E veio o silêncio. Deixou de cantar. Também a menina se entristeceu. Não era aquele o pássaro que ela amava. E de noite chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu pássaro... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola. "Pode ir, pássaro", ela disse:"Volte quando você quiser...""Obrigado, menina", disse o pássaro,Irei e voltarei quando ficar encantado de novo. E você sabe: Ficarei encantado de novo quando a saudade voltar dentro de mim...
E dentro de você...
Rubem Alves

quarta-feira, 20 de agosto de 2008


dentro de mim há corredores
e em quartos interiores um aroma azul
que confunde sonhos com a razão...
por dentro de mim rebentam flores.
por dentro de mim a noite escuta
o que me sai, sem voz, do coração.


Luciano Martini

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Tudo isso é poesia


Mar de manhã
Sons de cachoeira
Vento do mar de noite, numa ilha...
Abelha
Brisa que passa e ensina uma canção
Fogo vermelho no fogão
Capim
Perfume do capim
Passarinho no céu
Caminhar na praia a tardinha
O olhar e tudo o que ele olha
Pão quente
As flores que renascem na primavera
Sono na cama
Um cego que canta para uma criança
Estrada sinuosa
Castelos sombrios
Saudade
Barulho de chuva na janela
Sol nascente sobre um lago gelado
Outono
O trovão que estronda
Folhas caídas numa trilha
O silêncio entre nós...



Luciano Martini

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bancos Riscados


Vem comigo
caminhar no parque
ao encontro de bancos riscados
testemunha de passados
esse velhos livros silenciosos
deixe que te leve por esse trilha
que percorro todo dia
com meu olhar


Luciano Martini

Naquele abraço
muito mais do que braços
existiam berços...

Galhos Ressurretos


ausências em tempestade da alma
uma estrela que perdeu-se da noite
penetra na janela um sol vacilante
nesta bizarra manhã desfeita

canteiros de árvores secas florescem
libertam-se os segredos de aromas baunilhados
antecipam a primavera
fazendo perecer este inverno

ressurreição nas ruas...

Luciano Martini
(Obs. : Eu gosto da primavera, mas sinto saudade do outono!)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?


Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.
Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.

Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Canção da Saudade

São sombras do meu caminho
Iluminadas por sorrisos inesquecíveis
Que navegam em pétalas de lembranças
No jardim onde cultivo segredos,
Olhares de infância;
Memoriais...
Solto as amarras da vida,
E num segundo frágil
Fértil de sentimento,
Num só momento,
Revivo num renascer
Único e imenso
Num suave caminho...
*
Luciano Martini

Minha Dança


Sempre que uma canção íntima me alcança, a chuva me acorda os sentidos e o vento me confidencia suaves lembranças de um tempo longínquo, eu Te sinto.

Sei que me inspiras melhores sentimentos e mais elevadas emoções do que as que consigo ser. Também sei que me suportas e que me acompanhas o passo inseguro.
Mas sempre volto para um lugar dentro de mim, reflitindo sobre os versos que escrevo, sobre a dança que danço, na esperança de Te encontrar.

Quanto mais eu Te conheço, mais me descubro.
Luciano Martini

sábado, 9 de agosto de 2008

Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.

C S Lewis

segunda-feira, 4 de agosto de 2008


Oh! silêncio das salas de espera
Onde esse pobres guarda-chuvas lentamente escorrem...
O silêncio das salas de espera
E aquela última estrela...
Aquela última estrela
E, na parede, esses quadrados lívidos,
De onde fugiram os retratos...
De onde fugiram todos os retratos...
E esta minha ternura,
Meu Deus,
Oh! toda esta minha ternura inútil, desaproveitada!...

Mário Quintana

sábado, 2 de agosto de 2008

Naufrágio




Há em mim uma panteão de crepúsculos, pulsando nesta explosão de cores e sentidos.
Neste cenário que atrai o olhar dos poetas é onde eu encontro refúgio. Nesta ilha do imaginário habito com loucos, profetas e sonhadores. Fecho os olhos e ouço sinfonias, e vez por outra, o sussurrar dos anjos.
Sou caçador de versos.
Cada sabor acrescenta sabedoria, infundindo sentido a mistérios e possibilidades que vivo intensamente.
Uma vida não basta.
Por isso vivo mil vidas, narrando meus dias em poesia. Abandonei a crônica e a descrição histórica, quero viver em versos e melodia. Não decifro enigmas, mas sou por eles seduzidos. Misteriosamente atraído para este mar onde a possibilidade do naufrágio é certa. Mas como poetizou Mário Quintana- " Eu sempre sobrevivo a todos os naufrágios".
Luciano Martini

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


Hoje eu fiz um funeral.

Fiquei vagando por corredores assombreados, sentido o cheiro de flores envelhecidas e ouvindo meus passos ao longe. Das paredes, fotos mortas me observavam.
Desconhecidos ( como podiam imaginar?), hoje, dormem lado a lado, esperando...

Enterramos nossos mortos e choramos a falta que eles nos fazem. Sim, é isso que fazemos.
Jaz sobre nossos ombros este pesado fardo. Fardo dos que ficam.
Mas mesmo entre lágrimas conseguimos reservar um pequeno espaço. Um pequeno espaço para um leve sorriso.

Este frágil sorriso, nos revela, nos desnuda, a existência de uma esperança.

Um dia...

... nos veremos de novo.
Luciano Martini

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Minha Teologia


“Teologia é a tentativa do homem de ajuntar de novo as pétalas de sua flor, que é contínua e cruelmente destruída por um mundo que não ama flores”.


Rubem Alves

terça-feira, 29 de julho de 2008

Encanto


Meu melhor poema ainda não foi escrito.
Permanece encerrado em meu íntimo.
Rimando no compasso do meu coração.
Ele só existe em mim.
É um passarinho colorido preso na gaiola.

Mas às vezes, quando fico em silêncio,

ouço o seu canto.
*
Luciano Martini