quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vida e estações

Céu borrado de nostalgia.
No horizonte, uma clareira de azul celeste aconchega num abraço de lã, toda a restante abóbada transbordante de cinza. As árvores enamoradas deste fio de vento que chilreia nas folhas, dançantes, suplicam ternura , deixando-se despir, tiritantes de frio. Tráfego de vento, sob fios de sol transluzente no amarelo-sangue do folhedo, os ramos enegrecidos emergem, tais braços expostos em sua nudez. No chão uma laranja barriguda, jaz abandonada no seu amarelo-crepúsculo, a testemunhar a outonal fecundidade, rogando não ser esquecida. Há estacas abandonadas, despidas de cuidados, e os resquícios acobreados da folhagem, dizem-nos que a terra madorrenta vai repousar do parto das colheitas suavizando-nos a alma de nossa melancolia. A vida.
Encenada em cânticos de vento no folhedo—sucessão de mistérios e o homem no seu abandono testemunhando o refulgir das estações.
Da terra fecundada , sabemos que reclama uma pausa.
Das floreiras nem sempre rosas. Da vida nem sempre vida. Esta letargia, nostálgica doçura, em sinfonia de galhos e ventos, culminou ali, num amontoado de folhas esvaídas, para nela inquirirmos da nossa significância no outono da vida. As folhas não caem em vão!
Evocam a brevidade de nossos dias.
O outono das pinceladas de azul-água, castelos cinzentos no céu e o cantarolar das árvores nuas, imploram-nos um olhar demorado sobre este breve viver. Por que caem as folhas?
Pela esperança de serem colhidas...

Luciano Martini

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Um dia de frio


Entre densas avenidas
corredores e segredos
nos instigam:
silentes
ágeis sombras
flutuam em neblinas
tão sós, tão luas, tão nós...



Luciano Martini

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Aquelas praias


Ah ! As praias...

Não me esqueço
Daquelas lindas praias
Por onde nunca andei

O cheiro do mar
A sedução das ondas
O toque da areia
Como poderia me esquecer ?

Das praias
que eu nunca conheci...



Luciano Martini

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Chove em Poa


Há um tapete
de poças espelhadas
nas trilhas esquecidas
de algumas árvores chorosas
Que desenham a tua geografia
nesta tarde chuvosa
e aconchegante!


Luciano Martini