segunda-feira, 18 de julho de 2011

Inverno Úmido


A garoa da tarde umedece os meus passos
sobre a luz plúmbea da rua distraída
Meu olhar pende para o infinito
enquanto a desconhecida de rosto triste
recolhe sonhos e roupas de um varal


Luciano Martini

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Estou lendo

O MAIS TRISTE COM RELAÇÃO à vida é não se lembrar de metade dela. Não se lembrar nem de metade da metade dela. Não se lembrar nem mesmo de uma ínfima porcentagem, se quiser saber a verdade. Tenho um amigo chamado Bob que escreve tudo o que lembra. Se lembrar que deixou cair um sorvete de casquinha no colo quando tinha sete anos, ele vai escrever isso. A última vez que conversei com Bob, ele tinha escrito mais de quinhentas páginas de memórias. Ele é o único cara que conheço que se lembra de sua vida. Ele disse que capta lembranças porque, se esquecê-las, é como se não tivessem acontecido, como se ele não tivesse vivido as partes que não lembra.

Pensei nisso quando ele comentou e tentei me lembrar de algo. Lembrei-me de ter ganhado uma insígnia de mérito como escoteiro quando tinha sete anos, mas só consegui me lembrar disso. Eu a ganhei por ajudar um vizinho a cortar uma árvore.

Vou dizer isso para Deus quando ele perguntar o que fiz com minha vida. Vou dizer que cortei uma árvore e ganhei uma insígnia por isso. É muito provável que ele queira ver a insígnia, mas eu a perdi anos atrás e, por isso, quando eu tiver terminado minha história, Deus provavelmente estará sentado ali, olhando para minha cara de quem imagina o que vai falar em seguida. Deus e Bob provavelmente vão conversar durante dias.

Um Milhão de Quilômetros em Mil anos, Donald Miller


Só eu.


Onde percebes ilusão
eu vejo poesia
entre semi-deuses
eu tropecei na lancheria

Tudo pode ser
sem esperar acontecer
chuvas de verão, castelos de imaginação,
sempre viajei sozinho
em jardins de papelão

Sem tudo estar perdido, então.
Vou chorar um rio
Mas chorar a luz do luar,
Lagrimas de estrelas, emoção

Ser feliz é não saber, correr...correr...
E porque parar?
Deixa a dor não estar
Nunca mais

Seguir é não ter fim
Embalar-se neste crepúsculo laranja
Delicado como um poema
Luminoso como um picolé de limão

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entre Auroras e Tropeços

Permitam-me salvar aquele menino que habita os porões da minha alma. Descobrir os mistérios da cidade. Achar o brinquedo que eu perdi na calçada.

Eu quero voar de novo com a minha bicicleta, mesmo que desta vez, o ET não esteja na carona.

Coleciono fracassos, mas, creio na ressurreição da vida. Continuo a ser a esperança dos loucos e desajustados. Duvido das minhas certezas, para poder viver exclusivamente da fé. Pode parecer loucura, mas, eu sempre gostei de montanhas russas.

Repilo os perfeitos, os campeões, os prepotentes. Mas por outro lado, tenho empatia a todos os desajeitados, os estranhos, os iludidos na sua desilusão, àqueles que continuam a insistir em fazer serenatas, mesmo que a janela da varanda nunca tenha se aberto.

Vou ao encontro dos que sentam no fundo da sala, daqueles que não se levam muito a sério, dos que nadam contra a corrente esperando a onda perfeita, mesmo não sabendo surfar direito.

Trago nas dobras da alma a esperança de um desfecho feliz, para uma história tão ensaiada e sonhada, que ainda não foi totalmente contada.



Minha vida...





Luciano Martini

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Eu sou assim



Hoje eu sou reflexo do que tentei ser

resultado daquilo que não consegui

sou mosaico de estórias

menino que se perdeu no parque


sou sempre busca

sou sempre sonho

um poeta que habita em mim

mas, naquele parque

quase sem querer


encontrei um jardim.




Luciano Martini