quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vida e estações

Céu borrado de nostalgia.
No horizonte, uma clareira de azul celeste aconchega num abraço de lã, toda a restante abóbada transbordante de cinza. As árvores enamoradas deste fio de vento que chilreia nas folhas, dançantes, suplicam ternura , deixando-se despir, tiritantes de frio. Tráfego de vento, sob fios de sol transluzente no amarelo-sangue do folhedo, os ramos enegrecidos emergem, tais braços expostos em sua nudez. No chão uma laranja barriguda, jaz abandonada no seu amarelo-crepúsculo, a testemunhar a outonal fecundidade, rogando não ser esquecida. Há estacas abandonadas, despidas de cuidados, e os resquícios acobreados da folhagem, dizem-nos que a terra madorrenta vai repousar do parto das colheitas suavizando-nos a alma de nossa melancolia. A vida.
Encenada em cânticos de vento no folhedo—sucessão de mistérios e o homem no seu abandono testemunhando o refulgir das estações.
Da terra fecundada , sabemos que reclama uma pausa.
Das floreiras nem sempre rosas. Da vida nem sempre vida. Esta letargia, nostálgica doçura, em sinfonia de galhos e ventos, culminou ali, num amontoado de folhas esvaídas, para nela inquirirmos da nossa significância no outono da vida. As folhas não caem em vão!
Evocam a brevidade de nossos dias.
O outono das pinceladas de azul-água, castelos cinzentos no céu e o cantarolar das árvores nuas, imploram-nos um olhar demorado sobre este breve viver. Por que caem as folhas?
Pela esperança de serem colhidas...

Luciano Martini

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