terça-feira, 19 de maio de 2009

Parece que um navio

Parece que um navio estranho
Passará pelo mar, a certa hora.
Não é de ferro nem são alaranjadas
Suas bandeiras,
Ninguém sabe de onde
Nem a hora,
Tudo está preparado
E não há melhor salão, tudo disposto
Ao passageiro acontecimento.
A espuma está disposta
Como uma alfombra fina,
Tecida com estrelas,
Mais distante o azul,
O verde, o movimento ultramarinho,

Tudo espera.
E aberto o rochedo,
Lavado, limpo, eterno,
Espalhado na areia
Como um cordão de castelos,
Como um cordão de torres.
Tudo está disposto,
O silêncio está convidado,
E até homens sempre distraídos,
Esperam não perder a presença;
Vestiram-se como em dia Domingo,
Lustraram as botas,
Pentearam-se.
Estão ficando velhos
E o navio não passa.

Pablo Neruda