sexta-feira, 10 de julho de 2009

Outro mundo


Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim,
todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado,
feito de tijolos e de tempo urbano.
De repente, num dia qualquer,
a rua dá para um outro mundo,
o jardim acaba de nascer,
o muro fatigado se cobre de signos.
Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim:
tanto e tão esmagadoramente reais.
Sua própria realidade compacta nos faz duvidar:
são assim as coisas ou são de outro modo?
Não, isto que estamos vendo pela primeira vez, já havíamos visto antes.
Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim.
E à surpresa segue-se a nostalgia.
Parece que nos recordamos e queríamos voltar para lá,
para esse lugar onde as coisas são sempre assim,
banhadas por uma luz antiqüíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer.
Nós também somos de lá.
Um sopro nos golpeia a fronte.
Adivinhamos que somos de outro mundo...


Octávio Paz

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